quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Pesquisa realizada por membros da LABiM constata contaminação por germes em ônibus de Aracaju

Reportagem publicada no Jornal Cinform

Os ônibus do transporte coletivo de Aracaju levam bem mais do que passageiros, motoristas e cobradores. De acordo com uma pesquisa inédita, feita pelos alunos Valderez Santos, Tiago Nascimento e Thiana Reis, do curso de Biomedicina da Universidade Tiradentes - Unit -, os veículos carregam vários tipos de fungos e bactérias que podem causar alguns problemas à saúde. A pesquisa teve coordenação do professor Malone Santos Pinheiro.


O estudo analisou os ônibus após já terem rodado por cerca de sete horas. Foram colhidas amostras nas barras, nos leitores biométricos, onde os usuários colocam as digitais para passar na catraca, e nos assentos. Nos bancos. A análise das culturas revelou que 23% das amostras apresentavam contaminação por enterobactérias - coliformes - e 18% por "sataphylococcus aureus", um tipo de bactéria muito comum na pele humana.

A presença desses micro-organismos pode causar pequenas infecções na pele e problemas intestinais, como diarreias. O estudo mostrou também que os assentos são a parte do ônibus onde houve o maior nível de contaminação. "Esse estudo teve o objetivo de possibilitar a orientação de como os veículos podem ser higienizados", esclarece o professor Malone Pinheiro.

Ainda de acordo com este pesquisador, os níveis verificados nos veículos servem basicamente como referência para futuras pesquisas, visto que não há parâmetros locais que revelem se a incidência dos germes é ou não elevada. "A título de comparação, baseamos nosso estudo em uma pesquisa semelhante feita em banheiros públicos de Londres, na Inglaterra. Por lá, a concentração de bactérias foi de cerca de 15 unidades por centímetro quadrado, enquanto nos ônibus daqui foi de 35 unidades por centímetro quadrado.Ou seja, uma concentração quase três vezes maior", explica Malone.

DESLEIXO
Apesar de estes níveis de contaminação verificados na pesquisa causarem má impressão em leigos, em cientista da área eles não provocam alarde. São considerados moderados e, a princípio, não devem causar pânico nas pessoas. "Essas são bactérias que ocorrem de forma natural no ambiente e se propagam com o contato. Com o que as pessoas devem se preocupar é em sempre adotar hábitos de higiene assim que deixarem os ônibus. Embora não haja grande risco, a falta de cuidado pode provocar males digestivos", alerta Iza Lobo, gerente de Risco Sanitário do Hospital Universitário.

Os passageiros do transporte coletivo parecem não dar muita importância aos cuidados com a saúde após usarem os ônibus. O frentista Stanley Rodrigues até tira por menos. "Todo mundo sabe que as barras são sujas, pois todo mundo pega. Mas a gente precisa usar também e não tem essa preocupação", ameniza ele. Em verdade, seu ponto de vista reflete mesmo um alheismo geral.

O pior é que quando o usuário deixa o ônibus, termina ingerindo algum tipo de comida sem a devida higienização. As lanchonetes em volta da Rodoviária Velha, por exemplo, estão cheias de gente que consome alimentos sem se preocupar em estar com as mãos limpas. "Se a gente for ligar para tudo, não vive. A pressa, às vezes, faz com que a gente passe por cima do cuidado", diz o auxiliar administrativo Alex Lemos dos Santos, que resolveu comer uma coxinha assim que desceu do coletivo.

ÁGUA E SABÃO
Segundo o professor Malone Pinheiro, o uso de um detergente comum já seria suficiente para limpar os ônibus. "Ainda não sabemos como é feita a higienização dos carros. Se o produto for muito diluído em água, tecnicamente diminui a concentração do detergente. Seria interessante que pudéssemos trabalhar junto com as empresas", diz o biomédico.

Para o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Aracaju - Setransp -, é difícil acompanhar a forma como os ônibus são limpos, porque cada empresa adota padrões próprios. "Pode haver diferença no tipo de produto e na frequência com que os veículos são lavados", diz José Carlos Amâncio, superintendente do Setransp.

As empresas de ônibus admitem fazer a lavagem externa dos veículos e os varrer diariamente, mas não seriam tão cuidadosas quanto à higienização interna. "Fazemos dedetizações periódicas. A limpeza mais intensa por dentro é feita só uma vez por semana", revela Almir Xavier, chefe de Operações de empresa VCA.

Na Viação Progresso, maior empresa de coletivos da capital, que possui uma frota de cerca de 200 veículos, a lavagem externa dos ônibus também é feita diariamente. "A da parte interna, no entanto, é feita quando necessário. Lógico que em linhas com maior demanda, como a que leva mais crianças para a escola, por exemplo, a limpeza é feita todo dia. Já a dedetização é realizada toda a semana em 50 carros, de forma que em um mês toda a frota seja atendida", explica Alexandro Santos Alcântara, chefe de Serviços Gerais da empresa.

O professor Malone Pinheiro sugere que, diante das irregularidades nos procedimentos de limpeza, o ideal seria que fossem instalados recipientes com álcool gel nos coletivos, como uma maneira de que os próprios usuários fizessem a higienização antes de descer dos veículos.

Malone Pinheiro alerta que essa ideia ou o simples ato de lavar as mãos quando o passageiro voltar para casa ou chegar ao trabalho já seria o suficiente para afastar os riscos de contaminação. "As pessoas precisam criar o hábito de fazer isso constantemente", recomenda.






Para a aluna de Biomedicina Valderez Santos, a divulgação da pesquisa como manchete na edição no Jornal Cinform da última segunda-feira, 28 de novembro, é muito importante. "Trata-se de um estudo de grande impacto social, já que o ônibus é um veículo utilizado por grande parte da população que não tem muito conhecimento acerca da microbiologia. Por isso, a publicação em jornal faz com que os resultados dos estudos saiam da área acadêmica e atinjam toda a população", diz a estudante.