O TCC (trabalho de conclusão de curso) leva pelo menos um semestre para ser produzido e a apresentação não dura mais do que algumas horas. Em muitos casos, depois da aprovação, o trabalho não tem aproveitamento algum e passa servir apenas para ilustrar currículos e portfólios. Em alguns casos, no entanto, o TCC pode proporcionar ganhos aos alunos que extrapolam o âmbito acadêmico.
Existem até algumas escolas que estimulam estudantes a pensar o TCC como parte da iniciação profissional. “Ele é tão aplicado à prática que no dia da banca são convidadas empresas parceiras para assistir à apresentação. Temos banca acadêmica e banca de mercado, esta última, opina sobre o que achou interessante”, conta Ricardo Nakai, professor de marketing da Esamc. Ele acredita que o TCC é uma oportunidade interessante para o aluno conversar com o mercado.
Não é apenas para os cursos voltados ao mercado que a possibilidade de desenvolver um TCC com aplicação prática existe. De acordo com Denizar Melo, coordenador do curso de fisioterapia da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), por exemplo, é comum o trabalho final servir como ponte para o mestrado. “O que se quer com o TCC, que é um trabalho que desperta no aluno o espírito empreendedor e cientifico, é que ele seja um grande laboratório, propicie vivência prática e possa resultar numa (proposta a ser apresentada num curso) stricto sensu“, afirma Melo.
Além disso, Melo afirma que há casos em que o aluno desenvolve novas técnicas ou equipamentos que são de interesse do mercado. O desencadeamento do trabalho de conclusão dependeria da intenção do aluno. “Para alguns é mais natural atuar no mercado. Já outros têm viés mais acadêmico. O que a gente procura é potencializar essas vocações”, explica Melo. Segundo Almeida, um dos requisitos para que o TCC obtenha sucesso comercial é o embasamento teórico. “O trabalho serve para consolidar o conhecimento e confrontar teoria e prática. É importante ter base e conteúdo”, acrescenta.
Direcionado ao mercado
O coordenador do curso de fisioterapia da PUC-RS defende a idéia de que para aproveitar o TCC depois da formatura, o aluno precisa estar atento às necessidades de mercado. “Ele tem de ter um bom problema para resolver. E, a partir dele, montar um bom projeto para organizar esquematicamente a solução”, recomenda Melo. No entanto, ele sugere que o aluno direcione essa busca para a área do conhecimento da qual ele mais se aproxima.
No curso de fisioterapia da PUC-RS, as pesquisas dos alunos são atreladas às linhas de pesquisa dos professores. “Os alunos desenvolvem parte da pesquisa dos professores. Às vezes, os professores reúnem grupos de alunos e cada um faz um capitulo de um livro, que pode ser publicado”, explica Melo. Por isso, ele recomenda para aqueles que têm interesse em levar o TCC ao mercado, que procurem professores e orientadores interessados em atuar na mesma linha. A própria universidade pode direcionar o desenvolvimento de trabalhos mais atraentes aos olhos do mercado. “Todo ano exploramos um segmento para ser trabalhado pelos alunos. Depende do que está em alta no mercado”, diz Almeida.
Oportunidade de padronização
Formado em agosto de 2007 pela PUC-RS, o fisioterapeuta Régis Mestriner atualmente aguarda a concretização do processo de transferência tecnológica da patente depositada a partir de seu TCC. No projeto que fez em parceria com Rafael Oliveira Fernandes, ele desenvolveu um sistema de fisioterapia respiratória que, apesar de mais barato que os similares, estava esquecido devido à falta de padronização. “O sistema já existia desde a década de 30, mas não tinha como ser executado com segurança”, resume Mestriner.
Trata-se de um equipamento, denominado coluna d’água, para reabilitação pulmonar em que o paciente assopra ar para o interior de um recipiente por meio de um canudo. O fisioterapeuta pode regular a pressão interna e com isso exigir mais ou menos pressão por parte do paciente. O problema que prejudicava o uso desse método dizia respeito à resistência promovida pelo canudo à passagem do ar. Impossível de ser controlada pelo fisioterapeuta, comprometia o tratamento. “Embora seja um sistema alternativo a outros bem mais caros que existem no mercado, há muita resistência dos profissionais em utilizar, justamente pela falta de padronização”, lamenta Mestriner.
Os alunos tomaram conhecimento desse sistema numa aula do sexto semestre de Fisioterapia, quando o professor – que se tornou orientador do trabalho – propôs aos alunos que avaliassem o desempenho de diferentes tipos de material para execução dos procedimentos. Mestriner e Fernandes se interessaram e procuraram o hospital São Lucas, da própria PUCRS, onde conseguiram montar o sistema experimental e levantar os dados necessários para desenvolvimento do projeto. “A idéia inicial era padronizar o processo para usar no próprio São Lucas. O TCC nos deu a oportunidade de experimentar as idéias que surgiam. De algo que não esperávamos, conseguimos publicar até artigo”, comemora Mestriner.
Depois da apresentação do TCC, em agosto de 2007, a dupla continuou com o desenvolvimento do sistema visando o departamento de registro de patentes da PUC. Atualmente, a universidade, que depositou o registro, negocia a comercialização do sistema com empresas da área de saúde. Os trâmites estão sendo resolvidos pela universidade, que é quem levará, caso o processo seja bem sucedido, a maior parte dos lucros. Ainda assim, Mestriner e seu parceiro de TCC também terão retorno sobre o trabalho. “Estamos bem esperançosos de que aconteça. Toda a parte experimental foi feita durante o TCC. A única coisa feita depois foi o artigo”, conta Mestriner sobre o material publicado na revista científica da área de fisiologia respiratória Respiratory Care.
Fonte: http://www.biomedicinapadrao.com/
Postado por Graziele Ribeiro